Segundo as estatísticas nacionais, essa faixa etária possui um grande peso no conjunto da população activa moçambicana. É um conjunto de jovens, mulheres e homens, que tanto no campo como nas cidades se apresenta como líder nos mais diversificados processos sociais, culturais, económicos e até políticos.
Eles nasceram entre os anos de 1990 e Outubro de 1996. Não viveram a guerra civil, não viveram a fome dos anos 80, não entendem o que significam as guias de marcha, não conhecem as bichas nas lojas do povo e nem sabem o que são lojas dos cooperantes. Samora Machel é para eles somente uma figura mítica. A farinha amarela, o repolho e o carapau, não lhes diz mais nada, senão comida somente.
A Paz é um estado social, a democracia também. A guerra é uma surpresa e a pobreza também. Os processos da construção da nossa moçambicanidade são por eles conhecidos de frente para trás. Vitimas de propaganda e de um sistema de educação pouco informador, desconhecem uma grande parte dos fundamentos da realidade actual deste país.
Nunca viveram um mundo sem HIV, dai o maior índice de seropositividade na sua faixa. Nunca viveram num mundo fechado pelo socialismo e comunismo. A televisão, a internete, os celulares, os plasmas e os ecrãs touchs sempre fizeram parte da realidade moçambicana e não entendem porquê os seus pais os consideram uns extra terrestres.
Os seus pais, nós os mais velhos, a geração dos anos 60 e 70 também não os entendemos e nem nos preparamos para com eles conviver. Os nossos pontos de encontro resumem-se naquilo que chamam de conflito de gerações, dai que, para todos os fenómenos, mais nos comunicamos com os da nossa faixa etária e não com essa geração.
A pré campanha eleitoral, está a ser direcionada para a geração 60 e 70. A campanha será assim também direcionada. Os manifestos litorais, as políticas públicas e os espaços de dialogo estabelecem-se com a mesma lógica. Há um vazio de conexão entre a geração de 60/70 e a de 90. Enquanto a geração de 60/70 se consolidou ideologicamente e conduz os seus destinos para um norte mais ou menos visível, a geração 90 começa a entrar na sua verdadeira crise de ideal.
É uma geração que desconhece o seu líder, ou por outra, não possui um líder. Uma geração que não entende a voz dos intelectuais actuais e que fala uma língua também estranha para os outros. Não se convence com as políticas do dia e não sabe o seu destino. É a geração da abstenção. Que não se comunica com os azuis, com os verdes, com os vermelhos nem com os braços e por isso não vota. Ou quando vota, vota contra.
É a geração da crise que clama por um norte. Por um guia e por um ideal. É a geração que foi desenquadrada pela desatualização da geração dos anos 60/70, que, fechando-se em copas, continua a definir o mundo e os fenómenos sociais consoante os anseios e os princípios da sua época. Não entendem que a geração de 90, a geração touch, é uma geração veloz, insaciável e virtual.
Há que encontrar canais de diálogo e comunicação com essa geração. Ela representa o futuro deste país. Acima de tudo representa a continuidade. O grande legado que a geração dos mais velhos pode deixar para estes jovens seria a inclusão. Inclui-los em todos os processos nacionais sabendo que eles são a sua continuidade. A desconexão de gerações só pode descontinuar a nossa nação. Cabe a nós a responsabilidade de apresentar um ideal à geração de 90.
Dr. Custódio Duma